domingo, 19 de abril de 2015

Coletividade Em Dois Mundos: Real e Virtual


A coletividade pressupõe interação e convívio. Quando pensamos no coletivo, imediatamente surge a ideia da presença física do outro (mundo real). Se o outro está próximo fisicamente, a aceitação das suas idiossincrasias, do pensar diferente, a reciprocidade, a ligação tomam forma e conteúdo. Portanto, o sujeito influencia e é influenciado. Existe, porém, a coletividade do mundo virtual. Nesse mundo, os mais diferentes grupos interagem e possuem ligações assim como no mundo real. No mundo virtual, algumas peculiaridades ocorrem. Diante da falta de argumentos, de uma discordância sobre qualquer assunto, o sujeito internauta encontra um solução no mínimo intrigante: desfaz-se a amizade com um simples clic, simplificando de maneira preocupante um convívio e uma coletividade. Desta forma, o agir recíproco e as relações ficam fragilizados. O sujeito influencia e inviabiliza o ser influenciado clicando com o mouse. Isso, não ocorre no mundo real. Não com essa “facilidade”.

quarta-feira, 8 de abril de 2015

A ESCOLA PROGRESSISTA E SUA DIFÍCIL ACEITAÇÃO

Sair do ostracismo, da conformidade, da não aceitação do novo, e principalmente do não querer mudar, são características dos envolvidos no processo educacional tradicional. Desde os anos 80 quando começamos a conhecer de uma forma mais abrangente o surgimento da abordagem progressista, e nela, o seu representante máximo Paulo Freire, que temos a oportunidade de transformar de forma muito significativa, a nossa educação.
Segundo Silva (1986; 126) a abordagem progressista propõe:
Valorização da escola como agências dos conteúdos vivos, concretos, indissociáveis das realidades sociais; enquanto espaço específico em que se dará a apropriação/desapropriação/reapropriação do saber; integrada no todo social econômica e politicamente; capaz, por outro lado, de trabalhar visando à transformação dos interesses populares.
Percebe-se nesta manifestação, a importância da escola progressista e de seus benefícios para a formação do indivíduo na construção de uma sociedade melhor. Assim, fica cada vez mais evidenciada a necessidade de quebrar as algemas que nos prende a um modelo retrógrado e frágil.

         Docente e discente como atores principais

Promover o diálogo, a interação, levando em consideração a realidade social, econômica e política do discente, viabiliza uma condição muito favorável na construção do conhecimento. Valorizar e provocar o aluno, para que consiga de forma crítica e sem cobranças demasiadas expressar-se sobre os mais diversos assuntos, independentemente do seu grau de conhecimento, levará o aluno a uma emancipação do pensar. Evidente que o docente por ter mais experiência sobre as questões sociais, assume o papel principal. Para Mizukami (1986; 99) “um professor que esteja engajado numa prática transformadora procurará desmistificar e questionar, com o aluno, a cultura dominante, valorizando a linguagem e a cultura deste, criando condições para que cada um deles analise seu contexto e produza cultura”.
A escola tem como objetivo principal, potencializar a participação do aluno e do professor, levando-os para a reflexão dentro de um contexto histórico e para transformação social. Respeitando seus alunos, o professor progressista acredita que eles sejam capazes de construir sua própria história. Para Freire (1992; 81) “Ensinar é assim a forma que toma o ato do conhecimento que o (a) professor (a) necessariamente faz na busca de saber o que ensina para provocar nos alunos o seu ato de conhecimento também”. Por isso ensinar é um ato criador, um ato crítico e não mecânico.
Comprovando que na construção do saber, a cumplicidade entre docente e discente dimensiona e direciona ambos para uma educação mútua.

           Professor pesquisador inserido às necessidades tecnológicas

Agora, não basta ser um simpatizante da pedagogia progressista. É preciso ir além. O professor progressista deve buscar a qualificação, a formação contínua. A pesquisa fundamentada na metodologia científica representa para o educador, um acréscimo de qualidade na profissão docente. O desenvolvimento científico e tecnológico funciona como um marco relevante, que provoca um repensar no ensino como um todo.
Para Beherens, “o professor, na metodologia do ensino com pesquisa, torna-se figura significativa no processo como orquestrador da construção do conhecimento”.
Tem a função de ser mediador, articulador crítico e criativo do processo pedagógico.
O educador deve transpor a figura de um professor tradicional. Precisa desvincular-se de paradigmas superados e ampliar seus conhecimentos, promovendo a emancipação de si mesmo e de seus alunos.
A busca pela pesquisa proporciona a possibilidade de contextualizar o conteúdo que se aprende em sala de aula. Certamente, vai dinamizar a atuação do professor dando coerência entre o conteúdo exposto e o aprendido. Segundo Demo (1994: 54-55), o professor deve ter:
a)      Capacidade de pesquisa para corresponder desde logo ao desafio construtivo do conhecimento, o que transmite em aula tem que fazer parte do processo de construção do conhecimento, assumir tessitura própria em termos de mensagem, configurar componente de projeto autônomo, criativo e crítico. b) Elaboração própria para codificar pessoalmente o conhecimento que consegue criar e cariar, favorecendo a emergência do projeto pedagógico próprio. c) Teorização das práticas... d) Formação permanente... e)Manejo da instrumentalização eletrônica.
Propor novos projetos, bem fundamentados e que priorizem o trabalho coletivo e individual, faz com que o professor elabore aulas mais produtivas e prazerosas.

            Avaliar e ser avaliado

A avaliação na abordagem progressista é contínua, processual e transformadora. Não possui caráter punitivo e empreende a participação individual e coletiva. Contempla momentos de autoavaliação e de avaliação grupal. O professor progressista deve ter senso crítico, sem punir de forma exagerada o educando. Significa dizer, que o professor responsabiliza-se, pois é ele o detentor do conhecimento. Segundo Beherens:
A exigência, a rigorosidade e a competência são pelares sustentadores da avaliação, mas são propostas a serem desenvolvidas com os alunos, num processo de relação de parcerias, em que todos são responsáveis pelo sucesso e pelo fracasso do grupo.
A avaliação constitui-se como um importante instrumento medidor da atuação do educador e dos alunos. Por esse motivo, a individualidade e a coletividade na hora do aprender deve prevalecer.

          Superação de um modelo decadente e classificatório


O nosso sistema educacional está fortemente ligado ao ensino tradicional. Para muitos profissionais do ensino, estabelecer um clima de troca, de diálogo, e até mesmo de cumplicidade com o aluno não compete ao professor. Para esses, o educador tem que ensinar um determinado conteúdo, sem se importar com as questões sociais do educando, pois para eles é irrelevante se o discente enfrenta dificuldades no meio em que vive. Não aceitar que o rendimento do aluno sofre influência decorrente dos seus anseios, da sua fragilidade social, econômica e cultural caracteriza-se num grande erro. Sair de um modelo que prioriza a individualidade e a competitividade, para outro que tem como objetivo fundamental a inclusão social, a valorização da coletividade, a troca de saberes e a transformação do indivíduo num ser crítico, não é algo simples de se fazer. Contudo, quebrar paradigmas, superar velhos modelos, enxergar que é possível sim transpor os muros da tradicionalidade. Navegar nas ondas de um processo educacional progressista ajudará e muito na transição e na transposição de um modelo frágil e deficiente.