Sair do ostracismo, da conformidade, da não
aceitação do novo, e principalmente do não querer mudar, são características
dos envolvidos no processo educacional tradicional. Desde os anos 80 quando
começamos a conhecer de uma forma mais abrangente o surgimento da abordagem
progressista, e nela, o seu representante máximo Paulo Freire, que temos a
oportunidade de transformar de forma muito significativa, a nossa educação.
Segundo Silva (1986; 126) a abordagem progressista
propõe:
Valorização
da escola como agências dos conteúdos vivos, concretos, indissociáveis das
realidades sociais; enquanto espaço específico em que se dará a
apropriação/desapropriação/reapropriação do saber; integrada no todo social
econômica e politicamente; capaz, por outro lado, de trabalhar visando à
transformação dos interesses populares.
Percebe-se nesta
manifestação, a importância da escola progressista e de seus benefícios para a
formação do indivíduo na construção de uma sociedade melhor. Assim, fica cada
vez mais evidenciada a necessidade de quebrar as algemas que nos prende a um
modelo retrógrado e frágil.
Docente e discente como atores principais
Promover
o diálogo, a interação, levando em consideração a realidade social, econômica e
política do discente, viabiliza uma condição muito favorável na construção do
conhecimento. Valorizar e provocar o aluno, para que consiga de forma crítica e
sem cobranças demasiadas expressar-se sobre os mais diversos assuntos,
independentemente do seu grau de conhecimento, levará o aluno a uma emancipação
do pensar. Evidente que o docente por ter mais experiência sobre as questões
sociais, assume o papel principal. Para Mizukami (1986; 99) “um professor que esteja engajado numa
prática transformadora procurará desmistificar e questionar, com o aluno, a
cultura dominante, valorizando a linguagem e a cultura deste, criando condições
para que cada um deles analise seu contexto e produza cultura”.
A
escola tem como objetivo principal, potencializar a participação do aluno e do
professor, levando-os para a reflexão dentro de um contexto histórico e para
transformação social. Respeitando seus alunos, o professor progressista
acredita que eles sejam capazes de construir sua própria história. Para Freire
(1992; 81) “Ensinar é assim a forma que
toma o ato do conhecimento que o (a) professor (a) necessariamente faz na busca
de saber o que ensina para provocar nos alunos o seu ato de conhecimento
também”. Por isso ensinar é um ato criador, um ato crítico e não mecânico.
Comprovando
que na construção do saber, a cumplicidade entre docente e discente dimensiona
e direciona ambos para uma educação mútua.
Professor
pesquisador inserido às necessidades tecnológicas
Agora,
não basta ser um simpatizante da pedagogia progressista. É preciso ir além. O professor
progressista deve buscar a qualificação, a formação contínua. A pesquisa
fundamentada na metodologia científica representa para o educador, um acréscimo
de qualidade na profissão docente. O desenvolvimento científico e tecnológico
funciona como um marco relevante, que provoca um repensar no ensino como um
todo.
Para
Beherens, “o professor, na metodologia do
ensino com pesquisa, torna-se figura significativa no processo como
orquestrador da construção do conhecimento”.
Tem a função de ser
mediador, articulador crítico e criativo do processo pedagógico.
O
educador deve transpor a figura de um professor tradicional. Precisa
desvincular-se de paradigmas superados e ampliar seus conhecimentos, promovendo
a emancipação de si mesmo e de seus alunos.
A
busca pela pesquisa proporciona a possibilidade de contextualizar o conteúdo
que se aprende em sala de aula. Certamente, vai dinamizar a atuação do
professor dando coerência entre o conteúdo exposto e o aprendido. Segundo Demo
(1994: 54-55), o professor deve ter:
a)
Capacidade
de pesquisa para corresponder desde logo ao desafio construtivo do
conhecimento, o que transmite em aula tem que fazer parte do processo de
construção do conhecimento, assumir tessitura própria em termos de mensagem,
configurar componente de projeto autônomo, criativo e crítico. b) Elaboração
própria para codificar pessoalmente o conhecimento que consegue criar e cariar,
favorecendo a emergência do projeto pedagógico próprio. c) Teorização das práticas...
d) Formação permanente... e)Manejo da instrumentalização eletrônica.
Propor
novos projetos, bem fundamentados e que priorizem o trabalho coletivo e
individual, faz com que o professor elabore aulas mais produtivas e prazerosas.
Avaliar e ser avaliado
A
avaliação na abordagem progressista é contínua, processual e transformadora.
Não possui caráter punitivo e empreende a participação individual e coletiva.
Contempla momentos de autoavaliação e de avaliação grupal. O professor
progressista deve ter senso crítico, sem punir de forma exagerada o educando.
Significa dizer, que o professor responsabiliza-se, pois é ele o detentor do
conhecimento. Segundo Beherens:
A exigência, a
rigorosidade e a competência são pelares sustentadores da avaliação, mas são
propostas a serem desenvolvidas com os alunos, num processo de relação de
parcerias, em que todos são responsáveis pelo sucesso e pelo fracasso do grupo.
A
avaliação constitui-se como um importante instrumento medidor da atuação do
educador e dos alunos. Por esse motivo, a individualidade e a coletividade na
hora do aprender deve prevalecer.
Superação de um modelo decadente e classificatório
O
nosso sistema educacional está fortemente ligado ao ensino tradicional. Para
muitos profissionais do ensino, estabelecer um clima de troca, de diálogo, e
até mesmo de cumplicidade com o aluno não compete ao professor. Para esses, o
educador tem que ensinar um determinado conteúdo, sem se importar com as
questões sociais do educando, pois para eles é irrelevante se o discente
enfrenta dificuldades no meio em que vive. Não aceitar que o rendimento do
aluno sofre influência decorrente dos seus anseios, da sua fragilidade social,
econômica e cultural caracteriza-se num grande erro. Sair de um modelo que
prioriza a individualidade e a competitividade, para outro que tem como
objetivo fundamental a inclusão social, a valorização da coletividade, a troca
de saberes e a transformação do indivíduo num ser crítico, não é algo simples
de se fazer. Contudo, quebrar paradigmas, superar velhos modelos, enxergar que
é possível sim transpor os muros da tradicionalidade. Navegar nas ondas de um
processo educacional progressista ajudará e muito na transição e na
transposição de um modelo frágil e deficiente.